O Flore Ser Parto e Crias incentiva, apoia e valoriza o envolvimento dos homens (principalmente os pais) no processo do gestar e parir. Em todos os nossos grupos criamos momentos e formas de acolher e dar voz também para os homens que estão vivenciando sua transformação em pais.
Uma das coisas mais emocionantes de um parto é ver homens sustentando física e emocionalmente suas mulheres, para que essas possam atravessar seus partos. E temos conversado bastante sobre a necessidade de mais espaços e ações que abram esse espaço de escuta e apoio para os homens "grávidos".
Fernando participou de dois grupos do FloreSer, junto com sua esposa Fernanda, enquanto esperavam a Liz. E após a chegada da Liz, Fernando nos presentou com esse belíssimo relato de parto. O relato de um homem, sobre como se sentiu no parto de sua filha.
Gratidão imensa por nos possibilitar compreender um pouco mais a sensação masculina do parir...
Uma fonte de esperança!!
E você acorda.
E o tampão saiu.
E as contrações começaram.
E a bolsa estourou.
E você ali, assistindo …
O trabalho de parto
acontece num lugar que os homens não entram. Não compreendem, nem ao menos
conseguem vislumbrar. Você olha para a sua companheira e ela está noutro lugar,
em um santuário que só as mulheres entram, ou melhor, só as parturientes podem entrar.
E você ali, assistindo…
Vem uma contração, vem um
grito, um gemido, um olhar, um apertão no seu braço, uma boa sugestão “Vamos
amarrar a barriga!” … e a contração vai embora, seu braço foi solto e a barriga
tá amarrada.
E você alí, assistindo…
Vamos para o hospital!
Você coloca uma calça,
pegue a carteira, celular, as chaves do carro, as malas, as coisas do neném, a
bolsa da companheira, segue o plano … enquanto isso, lá no santuário das
parturientes, está acontecendo alguma coisa que nós, homens, não compreendemos.
Chega no hospital, assina
papel, conversa com o financeiro, preenche papel, assina mais papel, narra
endereço, mostra carteirinha do convênio, assina mais papel, confere papel,
assina contrato, assina termo de responsabilidade … enquanto isso, lá no
santuário das parturientes está acontecendo alguma coisa que nós, homens, não
compreendemos.
“Já tá com 5, 6, 8, 10
centímetros de dilatação. Vamos para o centro
cirúrgico!” e você, ou ainda está assinando papel, ou está ali, assistindo …
Aí começa … a natureza
masculina de cuidar, proteger, as vezes acalentar, ser decido, racionalizar,
ser pragmático e blá, blá, blá, não faz sentido porque as mulheres estão lá no
santuário onde somente as parturientes entram, lembra?!
Aí começa … o medo, a
agonia, a ansiedade e a dor causadas pela certeza de que você não entrou no
templo das parturientes.
NESSE MOMENTO! Nesse exato
momento nasce o PAI. Que mergulhado no sentimento de impotência, sozinho do
lado de fora do templo é tomado por uma força visceral e se transforma em uma
fonte infindável de ESPERANÇA.
Isso! Você simplesmente
acredita que de alguma forma, imcompreensível, tudo dará certo.
E você continua ali, assistindo!
Mas agora de outra forma …
você tem esperança.
Uma segurança e uma
certeza de que tudo dará certo.
A esperança de que sua
companheira encontrará uma forma de parir, a esperança de que a doula
encontrará uma maneira de auxiliar sua companheira, a esperança de que a médica
tomará a decisão certa, a esperança de que tudo dará certo.
E no meio de todo o
movimento acontecendo dentro do templo das parturientes sua companheira olha
pela janela, te procura, te vê, se enche de esperança e reconhece o pai no
homem que ela escolheu.
E assim, de agora em
diante, o homem se transforma nessa fonte de esperança que a mãe (nome dado às
mulher que saem do templo das parturientes) busca sempre que lhe for necessário
ao longo dessa caminhada, agora a três, quatro, cinco … quantos vocês quiserem
ter na sua família.
Aproveitamos para convidar mais homens grávidos para o próximo Grupo de Preparação para o Parto do Flore Ser que acontecerá em abril. Vamos?