segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Dicas para quem vai parir no SUS

Me pediram algumas dicas para uma mulher que já está no final da gestação, deseja um parto normal e vai ganhar seu bebê no SUS de Uberlândia.... Resolvi compartilhar as dicas pois talvez possa ajudar outras mulheres.


Vamos lá:

1 - Respire!!! Lenta e profundamente

Não é brincadeira.... a primeira dica para quem quer parir é sempre relaxar, sentir seu corpo, confiar e estar conectada com o que acontece... Então respirar faz toda a diferença mesmo antes de entrar em trabalho de parto, pq os bebês não têm data certa para nascer e não existe um prazo de validade... a data provavel de parto que os médicos anotam no cartão da gestante é só uma data de referencia, que é calculada com base nas 40 semanas. Mas os bebês podem nascer antes e depois!!! E isso não quer dizer que está passando da hora não, entender isso é fundamental e daí a necessidade de relaxar para diminuir a ansiedade se "passar da data".

Começaram as contrações???  Toda vez que vier uma contração tente respirar profundamente, puxando o ar pelo nariz até sentir ele chegando "no pé da barriga" e depois vai soltando lentamente o ar... o corpo precisa relaxar para deixar a contração trabalhar e abrir o corpo para a passagem do bebê...
Tem uma visualização que ajuda a lembrar desse tipo de respiração que é: "Cheira a florzinha (inspiração) e sopra a velinha (expiração). Imagine vc cheirando uma flor enquanto inspira e soprando uma vela enquanto expira"...
E lembre-se!!! A contração é algo importante e fundamental para o processo e não tem como fugir dela, então o melhor é aceitá-la e buscar a melhor posição para passar por ela.

2 - Não corra apavorada

Quando as contrações começarem não precisa correr pro Hospital (no caso aqui de Uberlândia, para a UAI). As contrações começam numa intensidade e vão diminuindo seu intervalo seu tempo entre uma e outra aos poucos. Se o intervalo entre uma e outra estiver maior que 10 minutos, nada de correr... elas ainda precisam se ritmar mais... mas se já tiver vindo num intervalo regular menor que 10 minutos daí é a hora de ir para a UAI avaliar e daí a equipe avaliar se já é hora de encaminhar para o Hospital (o protocolo da rede é que a gestante só vá para o Hospital com pelo menos 4 cm de dilatação, pq antes disso ainda é considerado uma fase preparatória do trabalho de parto e se for muito cedo para o Hospital a chance de acabar caminhando para uma cesaria ou receber intervenções desnecessárias aumenta muito)
Agora se antes disso, a bolsa romper, ou tiver sangramento de cor viva, daí a indicação é realmente procurar o atendimento médico independente da intensidade e tempo de contração! Para uma melhor avaliação.

3 - O tempo não é o inimigo

Nascimentos rápidos ou à jatos são bem raros, o normal é demorar um booooooom tempo. Então prepare-se e prepare a família para isso. Nada de ficar colocando caramilholas na cabeça de que os médicos estão esperando mais tempo do que precisa e que o bebê vai entrar em sofrimento por causa disso. Cada mulher precisa de um tempo diferente para se abrir para seu filho e o bebê também... durante o trabalho de parto, o bebê também faz seu processo e também precisa de tempo para achar o seu caminho para sair... e alguns bebês precisam de mais tempo que outros... afinal não é fácil sair do conforto e proteção do útero e começar uma vida aqui fora... os bebês fazem uma verdadeira dança dentro do útero para se despedir desse ambiente que tanto tempo o acolheu. Se você estiver no hospital e os médicos de tempo em tempo estiverem escutando o coraçãozinho do bebê e confirmando que está tudo bem com ele, então paciência... acredite no seu corpo e respeite o tempo do bebê. Se o coraçãozinho do Bebê estiver bem, ele pode ficar o tempo que for necessário aí dentro, sem preocupação...

4 - Movimente-se

Se o bebê dança dentro do ventre, a mulher também deve dançar!!! Movimentar o corpo, caminhar, rebolar, soltar o quadril, agachar, sentar na bola de pilates, tudo isso ajuda e muito o processo... tanto para dilatar mais rápido quanto para aliviar as dores durante as contrações.
Outros recursos que ajudam bastante é a massagem e o balho no chuveiro. A àgua morna no corpo é um dos melhores remédios para a dor! E o Hospital Municipal de Uberlândia oferece todos esses recursos!
A pior posição, a que mais dói e atrapalha o processo é deitada de barriga pra cima, então o jeito é se movimentar... Mas é bom também alternar alguns momentos de descanso e relaxamento, daí tente deitar de lado, ou levantar a cabeceira da cama e ficar mais "sentada".




5 - Beba líquidos

"Saco vazio não para em pé". Se vc não tiver nenhuma contra-indicação do médico, lembre-se de ingerir muito líquido e até se alimentar para ter força e energia. Sim, a mulher pode e deve se alimentar durante o trabalho de parto e a água é fundamental!

6 - Escolha a posição mais confortável para o seu filho nascer

Vc não precisa ficar deitada e nem com as pernas na perneira para o bebê nascer. Aliás, as posições verticais são mais indicadas porque a gravidade ajuda e é menos risco de ter alguma laceração no períneo (músculo da vagina)... e nada de pedir para o médico ajudar dando o "pic"... muito pelo contrário, se o bebê estiver bem, não deixem que os médicos te cortem sem necessidade. Já foi comprovado cientificamente que a episiotomia ("pic") não tem nenhum benefício e é prejudicial para a recuperação materna. Ela só deve ser realizada em casos muito específicos,
No Hospital Municipal o bebê pode nascer no pre-parto se estiver tudo bem, mas mesmo se for no centro cirurgico, você pode escolher a posição.
Existe até uma banqueta de parto que pode ser utilizada nesse momento.





7 - Pegue o seu filho no colo

Assim que ele nascer, pegue o seu filho. Abrace, beije, converse com ele. Não permita que ele seja retirado de perto de você. O pediatra pode avaliá-lo em seu braço e se ele estiver bem, o melhor lugar para ele ficar nesses primeiros momentos é em seu colo... É o seu cheiro, a sua voz, o seu calor que ele reconhece e que vai acalmá-lo... deixe ele ficar próximo do seu peito e veja se ele quer mamar. Amamentar na primeira hora de vida é recomendação do Ministério da Saúde e pode contribuir e muito para o melhor estabelecimento de vínculo entre mãe e filho. Pesar, limpar, dar vacina... tudo pode ser feito com calma, num segundo momento e nada é mais importante do que esse vínculo nessa hora.
É claro que em casos que o bebê não nasce bem, ele pode precisar de alguma intervenção e nesse caso o pediatra vai lhe informar sobre isso. Mas esses são a minoria dos casos e daí sim o bebê talvez precise ser afastado da mãe.


8 - Escolha bem seu ou sua acompanhante!

Toda mulher tem direito a um acompanhante de livre escolha durante todo o pré-parto, parto e pós-parto imediato. Você não precisa nem deve ficar sozinha em nenhum momento. Esse acompanhante é a pessoa que te conhece e pode curtir esse momento único de vida com você. Então ele também precisa estar preparado e acreditar naquilo que você deseja. Se você quer um parto normal e respeitoso, esse acompanhante tem que saber disso e entender um pouquinho de como tudo acontece para ele poder te dar o apoio necessário. Esse acompanhante tem que acreditar na sua capacidade e te dar força para enfrentar o processo, porque se ele tiver muito medo ou ficar com muita dó, ao invés de ajudar, ele pode é te atrapalhar...  Então converse antes e deixe claro o que você deseja para o parto.

No mais, acredite em você, no seu corpo, na sua capacidade de gerar. SEU CORPO É SÁBIO E VOCÊ E SEU BEBÊ MERECEM VIVER ESSE MOMENTO DE FORMA RESPEITOSA E AMOROSA.

AH! Última dica! Se ainda der tempo, visite o Hospital Municipal antes do parto, para conhecer a estrutura e o processo de lá. O Hospital tem um dia de visita organizada justamente para isso. Basta ligar lá e agendar com a equipe. Isso ajuda e muito, para que no dia do parto você não sinta num local totalmente estranho e também para lhe dar mais tranquilidade.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

As mil e uma noites (Rubem Alves)

As mil e uma noites – por Rubem Alves

Estou me entregando ao prazer ocioso de reler As mil e uma noites. O encantamento começa com o título que, nas palavras de Jorge Luis Borges, é um dos mais belos do mundo. Segundo ele, a sua beleza particular se deve ao fato de que a palavra mil é, para nós, quase sinônimo de infinito. “Falar em mil noites é falar em infinitas noites. E dizer mil e uma noites é acrescentar uma além do infinito.”

As mil e uma noites são a estória de um amor – um amor que não acaba nunca. Não existe ali lugar para os versos imortais do Vinícius (tão belos que o próprio Diabo citou em sua polêmica com o Criador) : “Que não seja eterno, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure…” Estas são palavras de alguém que já sente o sopro do vento que dentro em pouco apagará a vela: declaração de amor que anuncia uma despedida.

Mas é isto que quem ama não aceita. Mesmo aqueles em quem a chama se apagou sonham em ouvir de alguém, um dia, as palavras que Heine escreveu para uma mulher: ”Eu te amarei eternamente e ainda depois.” É preciso que a chama não se apague nunca, mesmo que a vela vá se consumindo. A arte de amar é a arte de não deixar que a chama se apague. Não se deve deixar a luz dormir. É preciso se apressar em acordá-la (Bachelard). E, coisa curiosa: a mesma chama que o vento impetuoso apaga volta a se acender pela carícia do sopro suave…


As mil e uma noites são uma estória da luta entre o vento impetuoso e o sopro suave. Ela revela o segredo do amor que não se apaga nunca.

Um sultão, descobrindo-se traído pela esposa a quem amava perdidamente, toma uma decisão cruel. Não podia viver sem o amor de uma mulher. Mas também não podia suportar a possibilidade da traição. Resolve, então, que iria se casar com as moças mais belas dos seus domínios, mas depois da primeira noite de amor, mandaria decapitá-las. Assim o amor se renovaria a cada dia em todo o seu vigor de fogo impetuoso, sem nenhum sopro de infidelidade que pudesse apagá-lo. Espalham-se logo, pelo reino, as notícias das coisas terríveis que aconteciam no palácio real: as jovens desapareciam, logo depois da noite nupcial. Sherazade, filha do vizir, procura então o seu pai e lhe anuncia sua espantosa decisão: desejava tomar-se esposa do sultão. O pai, desesperado, lhe revela o triste destino que a aguardava, pois ele mesmo era quem cuidava das execuções. Mas a jovem se mantém irredutível.

A forma como o texto descreve a jovem Sherazade é reveladora. Quase nada diz sobre sua beleza. Faz silêncio total sobre o seu virtuosismo erótico. Mas conta que ela lera livros de toda espécie, que havia memorizado grande quantidade de poemas e narrativas, que decorara os provérbios populares e as sentenças dos filósofos.

E Sherazade se casa com o sultão. Realizados os atos de amor físico que acontecem nas noites de núpcias, quando o fogo do amor carnal já se esgotara no corpo do esposo, quando só restava esperar o raiar do dia para que a jovem fosse sacrificada, ela começa a falar. Conta estórias. Suas palavras penetram os ouvidos vaginais do sultão. Suavemente, como música. O ouvido é feminino, vazio que espera e acolhe, que se permite ser penetrado. A fala é masculina, algo que cresce e penetra nos vazios da alma. Segundo antiqüíssima tradição, foi assim que o deus humano foi concebido: pelo sopro poético do Verbo divino, penetrando os ouvidos encantados e acolhedores de uma Virgem.
O corpo é um lugar maravilhoso de delícias. Mas Sherazade sabia que todo amor construído sobre as delícias do corpo tem vida breve. A chama se apaga tão logo o corpo se tenha esvaziado do seu fogo. O seu triste destino é ser decapitado pela madrugada: não é eterno, posto que é chama. E então, quando as chamas dos corpos já se haviam apagado, Sherazade sopra suavemente. Fala. Erotiza os vazios adormecidos do sultão. Acorda o mundo mágico da fantasia. Cada estória contém uma outra, dentro de si, infinitamente. Não há um orgasmo que ponha fim ao desejo. E ela lhe parece bela, como nenhuma outra. Porque uma pessoa é bela, não pela beleza dela, mas pela beleza nossa que se reflete nela…
 
Conta a estória que o sultão, encantado pelas estórias de Sherazade, foi adiando a execução, por mil e uma noites, eternamente e um dia mais.
 
Não se trata de uma estória de amor, entre outras. É, ao contrário, a estória do nascimento e da vida do amor. O amor vive neste sutil fio de conversação, balançando-se entre a boca e o ouvido. A Sônia Braga, ao final do documentário de celebração dos 60 anos do Tom Jobim, disse que o Tom era o homem que toda mulher gostaria de ter. E explicou: ”Porque ele é masculino e feminino ao mesmo tempo…” o segredo do amor é a androgenia: somos todos, homens e mulheres, masculinos e femininos ao mesmo tempo. É preciso saber ouvir. Acolher. Deixar que o outro entre dentro da gente. Ouvir em silêncio. Sem expulsá-lo por meio de argumentos e contra-razões. Nada mais fatal contra o amor que a resposta rápida. Alfange que decapita. Há pessoas muito velhas cujos ouvidos ainda são virginais: nunca foram penetrados. E é preciso saber falar. Há certas falas que são um estupro. Somente sabem falar os que sabem fazer silêncio e ouvir. E, sobretudo, os que se dedicam à difícil arte de adivinhar: adivinhar os mundos adormecidos que habitam os vazios do outro.
 
As mil e uma noites são a estória de cada um. Em cada um mora um sultão. Em cada um mora uma Sherazade. Aqueles que se dedicam à sutil e deliciosa arte de fazer amor com a boca e o ouvido (estes órgãos sexuais que nunca vi mencionados nos tratados de educação sexual…) podem ter a esperança de que as madrugadas não terminarão com o vento que apaga a vela, mas com o sopro que a faz reacender-se.  
Rubem Alves

domingo, 28 de junho de 2015

PROGRAMAÇÃO DO CURSO PREPARAÇÃO PARTO



 
FLORE SER – PARTO
ROGRAMAÇÃO DO CURSO


PRIMEIRO MÓDULO

1 – Dinâmica de Introdução e Apresentação
·         Apresentação
·         Abertura e Entrega
·         O parto como evento psicoemocional (espiritual e cultural). A importância da abertura, da entrega e da relação mãe/pai/bebê.

2 – Segurança no Parto e Tipos de Parto
·         Evidências Científicas. Porque e quando surgiu? Quem aplica?
·         Comodidade, interesses econômicos, falta de conhecimento
·         Locais de parto: Hospital, Casa de Parto, Casa da gestante
·         Tipos de parto: Normal (convencional, natural), Cesárea
·         Assistência Humanizada
·         Intervenções (necessárias e desnecessárias), vantagens e desvantagens
·         Minimizando os riscos. Quais os riscos?
·         Filme: “A Difamação do Parto”

4 -  Plano de Parto – Equipe, Doula, Pai
·         Qual a expectativa para o parto? Como ele é visto pela mulher, pelo marido, pela sociedade?
·         O mito do parto ideal
·         Decisões Importantes! a equipe médica (ou parteira) – o local de parto – a doula – o registro – os cuidados com o bebê recém-nascido – ... e outros (presença de outras pessoas, detalhes particulares) 
·         O PAI no parto
·         Modelo de Plano de Parto

5 -  Encerramento – Vídeo, Dinâmica, Dúvidas

SEGUNDO MÓDULO

6 – Fases do Trabalho de Parto
·         Fases e Fisiologia do Parto
·         Sensações, sentimentos, necessidades
·         Expulsivo, Parto e Pós-Parto imediato
·         Placenta
·         Estabelecendo a amamentação – qualidade na formação do vínculo
·         Fechamento do Parto

7 – Recursos para o alívio da dor
·         Exercícios do corpo e da mente – Movimento, concentração, respiração
·         Alívio da dor: métodos não farmacológicos
·         O papel da Doula – apoio físico e emocional
·         Vivência: Bola – Banqueta – Banheira – Massagens – Posições – Rebozo – Ambiência e Música

8    – Cuidados na Gestação

·         Alterações psicoemocionais
·         Gestação saudável: Nutrição, Atividade Física
·         Conexão interna e com o parceiro
·         Cuidados com o Períneo
·         Energia sexual na Gestação e no Parto

9    – Encerramento

·         Lidando com o preconceito (DPP e o tabu do parto humanizado)
·         O Flore Ser da Maternidade e da Paternidade
·         Lista para consulta, livros, vídeos, relatos, fotos, leis, evidências científicas
·         Avaliação dos participantes