segunda-feira, 21 de março de 2016

Relato de parto da Olívia! ( por Cristina Leles)

A Cristina e o Rafael participaram de um dos grupos de Preparação para o Parto do Flore Ser enquanto se preparavam para a chegada de sua filha Olívia. 
Olívia chegou no dia 02 de dezembro de 2015 e é com muito amor e emoção que compartilhamos o relato de parto que a Cristina generosamente compartilhou com a gente.


Relato de parto da Olívia! (Cristina Leles)


Já tem um tempo que tenho ensaiado escrever meu relato de parto mas, como podem imaginar, ando meio sem tempo rsrs. O difícil mesmo, é colocar em palavras algo tão intenso e indescritível como parir. 
Mas vamos lá… não vou começar do começo, de quando decidi que teria um parto natural, de como escolhi a equipe que me acompanhou, da necessidade de lutar contra o sistema pelo direito de parir naturalmente, etc… vou às vias de fato, depois escrevo a primeira parte. 
Bom, pra começar, conto que meu trabalho de parto durou dois dias, do dia 31 de novembro ao dia 2 de dezembro. Comecei a me sentir diferente na segunda pela manhã, alguns incômodos e umas dorzinhas que pareciam dor de barriga. Como tinha consulta a tarde, resolvi esperar sem falar nada pra ninguém (eu planejava não contar nada até o final hahaha sabe de nada inocente). Fui ao banheiro e percebi que o tampão mucoso tinha começado a sair, mas nada demais. À tarde fui levar a Luísa pra escola, fazer matrícula, etc… e encontrei uma conhecida que se espantou ao me ver e perguntou: ainda não ganhou??? Eu, sem pensar na reposta, disse: não mas já estou com algumas contrações… ela ficou com uma cara assustada e eu continuei meu dia. Depois chamei um amigo taxista pra me levar pra consulta pois estava com muito calor e preguiça de dirigir. No meio do caminho, mais uma fisgadinha. Ele me perguntou se estava tudo bem e eu, de novo, com toda naturalidade disse que sim que só estava tendo umas contrações… ele ficou apavorado e começou a acelerar o carro dizendo “pelo amor de Deus, não vai ter esse bebê agora”. Daí eu disse que não, que ainda ia demorar pra nascer (olha o tal do instinto aí rsrs). 
Bem, na consulta, eu e Paula conversamos e ela perguntou se eu queria fazer o toque. Eu quis e constatamos que eu estava com 2 centímetros de dilatação, mas não tinha contrações regulares. Ela me lembrou que eu poderia ficar assim durante um bom tempo, até uma semana… enfim… até essa hora eu ainda não tinha criado muita expectativa. Voltei pra casa e no final do dia, Luísa me pediu pra estudar pra prova do curso de inglês com ela. Estávamos estudando e comecei a sentir um pouco mais de dor em cada cólica (era muito parecido com cólica nesse momento). Rafael fazendo janta e eu e Luísa estudando, eu parava de ler quando sentia uma dorzinha mas continuava depois. Até que senti uma beeemmm forte… muito mesmo… saí correndo pro chuveiro e a coisa não passava. Gritei pro Rafael ligar pra Alessandra, minha doula-amiga-anja. Falei que queria que ela fosse lá, na verdade, esse foi o primeiro momento que senti medo. 
Depois de algum tempo, ela chegou e eu já estava beemm mais tranqüila, não tinha sentido a dor forte mais e pensei que era “alarme falso”… perguntei se ela achava que devia ligar pra Paula, ela disse que sim. Daí pensei que seria exagero mas liguei mesmo assim e liguei pra minha mãe também pois ela mora noutra cidade e ficaria com a Luísa. Depois de umas duas horas, chega minha mãe, meu pai e logo depois a médica assistente Renatinha pois a Paula estava descansando de outro parto que ela tinha acompanhado. Bem já era quase meia noite e eu sentia algumas dores mas ainda estava “controlada”. 
Passei a noite sentada no sofá, cochilando entre uma contração e outra. Rafael tentando dormir no colchão ao lado. Às 06:00hs na manhã de terça, chega a Paula com toda a calma que Deus deu pra ela, fizemos outro toque… 3 centímetros de dilatação, nessa hora, meu mundo caiu, como assim?? Um dia e uma noite inteiros de contrações e somente 1 mísero centímetro de dilatação?? Paula me disse que o trabalho de parto não tinha engatado ainda e que poderia durar horas ou dias. Eu me sentindo muito cansada, com muito sono e só queria dormir. Foi aí que as contrações simplesmente desapareceram. Eu já não sentia mais nada. Em meio a lágrimas e pensamentos do tipo “não vou conseguir”, adormeci durante umas 3 horas. Quando acordei, ainda sentia umas contrações bem leves e muito distantes uma da outra. Só conseguia pensar: meu trabalho de parto não engatou, não vou conseguir, vou pedir uma cesarea pra amanhã e sentia uma tristeza muito grande por isso. Assim fiquei até a tarde quando a Alessandra chegou com todos seus apetrechos e mandingas. Conversamos muito, falei dos meus medos, da dificuldade que era deixar aquela vida que eu já estava tão acostumada e me entregar pro novo. Ali na sala da minha casa, fizemos um sessão de terapia, Reike e alguns exercícios. Depois a Alessandra me fez movimentar, fomos caminhar na praça perto de casa, subimos e descemos as escadas do prédio e depois fomos dançar no PlayStation com a ajuda da Luísa. Até esse momento as contrações ainda estavam leves e irregulares. 
Alê foi embora. Rafael chegou do trabalho e as contrações começaram a aumentar de intensidade e frequência. Aqui vale um adendo, eu simplesmente não consegui em nenhum momento monitorar as contrações, eu tentava marcar, pedia pro Rafael e pra Luísa marcarem, mas não tinha ritmo, não era como eu tinha estudado. Enfim… por volta das 19:00 horas elas começaram a me desconcertar, eu já não conseguia me controlar, me concentrar em nada e só pensava “meu Deus como que posso me entregar pra uma dor dessas”. A dor é muito diferente de tudo que já senti, ela te cega, vocês passa a ficar sem raciocínio lógico, eu tentava manter o controle da situação o tempo todo mas simplesmente não conseguia. 
Daqui pra frente, eu não lembro muita coisa, sem perceber me entreguei pra aquele momento. Então, sem lógica e coerência vou tentar relatar o que pensava e sentia: estou sendo esmagada de dentro pra fora… quero que acabe logo pra poder dormir… quero vomitar, putz vomitei na Alessandra … Quero dormir… não acho lugar, o chuveiro não adianta, a bola de Pilates não adianta, um abraço adianta, estou sem ar, quero água, que calor… assim fico até que a Paula (nessa hora já estava todo mundo na minha casa) me pede pra fazer outro toque, eu aceito mas penso: ihhh não engatou, vamos marcar a cesárea. Ela faz e diz: você está com 7 centímetros, a Olívia está chegando, vamos embora??? Sinto um misto de felicidade e pânico… Muito pânico… quero chorar… vejo todo mundo se movimentando, quero ajudar e fico paralisada. Daí a Paula me fala:chegou a hora, quero que vc não pense em mais nada, vamos tomar conta de tudo. Vou até o quarto da Olívia onde a Luísa estava dormindo, me despeço, terceiro momento de medo. 
Daí vamos pro hospital, eu ajoelhada no banco de trás do carro com a Paula do meu lado. Nesse momento acho que entrei na Partolandia, não me lembro como chegamos ao hospital e quase nada depois disso. Só sei que vi a cama no quarto do hospital e pensei: quero dormir. Além da dor (aqui já tinha me entregado pra ela) eu sentia um cansaço descomunal, então eu só queria que acabasse logo pra eu dormir (huahaujuauaua sabe de nada inocente parte II) e muita sede e calor. Daí me lembro das meninas Paula, Renatinha e Alê me pedindo pra agachar Kkkkkkkkkkkk nessas alturas do campeonato elas me pediam agachamento. Eu mal conseguia ficar de pé. Daí a Renata me segurou pelas costas e pediu pra que eu soltasse o corpo. Nem se eu quisesse conseguiria resistir. Aí veio aquela vontade de fazer força e fiz muita, achei que tinha feito um cocô enorme no chão do quarto. Paula me diz: ela está chegando e está dentro da bolsa.. Depois só vi ela sair correndo… vem cadeira de rodas… me levam pro centro cirúrgico (é norma do hospital, o bebê ter que nascer no centro cirúrgico, absurdo né??) enfim… no meio do caminho.. quero fazer força de novo… e faço… Paula vem me buscar correndo… quero fazer outra força.. espera… agora não… chego no centro cirúrgico.. Quero perguntar cadê o pediatra… não consigo falar… outra força… Deve ter rasgado tudo (penso) … Paula??? Ela está chegando… Meus Deus… sai Olívia, com bolsa, placenta e tudo.. 
Ela é rosa!!! Me olha de dentro pra fora… o mundo pára… nada mais existe… Não acredito, ela está aqui. Linda, meu bebê cor de rosa nasceu às 03:17 da madrugada, empelicada, meconizada e com uma circular de cordão (esses nomes é pra quem está estudando o assunto). Não tive nenhuma intervenção!! O pediatra chega e não acredita que ela já tinha nascido. O expulsivo foi muito rápido, deve ter sido pra compensar as horas da fase latente… e eu?? Ainda não dormi aquele sono que eu tanto sonhei no trabalho de parto… mas vale cada minuto!!! Agora… só agradeço a Deus e a cada um que fez ser possível trazer a Olívia da forma como ela queria vir… na sua piscininha particular, recebida pelas mãos da mamãe e do papai.


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