A Cristina e o Rafael participaram de um dos grupos de Preparação para o Parto do Flore Ser enquanto se preparavam para a chegada de sua filha Olívia.
Olívia chegou no dia 02 de dezembro de 2015 e é com muito amor e emoção que compartilhamos o relato de parto que a Cristina generosamente compartilhou com a gente.
Relato de parto da Olívia! (Cristina
Leles)
Já tem um tempo que tenho ensaiado
escrever meu relato de parto mas, como podem imaginar, ando meio sem tempo
rsrs. O difícil mesmo, é colocar em palavras algo
tão intenso e indescritível como parir.
Mas vamos lá… não vou começar do
começo, de quando decidi que teria um parto natural, de como escolhi a equipe
que me acompanhou, da necessidade de lutar contra o sistema pelo direito de parir
naturalmente, etc… vou às vias de fato, depois escrevo a primeira parte.
Bom,
pra começar, conto que meu trabalho de parto durou dois dias, do dia 31 de
novembro ao dia 2 de dezembro. Comecei a me sentir diferente na segunda pela
manhã, alguns incômodos e umas dorzinhas que pareciam dor de barriga. Como
tinha consulta a tarde, resolvi esperar sem falar nada pra ninguém (eu
planejava não contar nada até o final hahaha sabe de nada inocente). Fui ao
banheiro e percebi que o tampão mucoso tinha começado a sair, mas nada demais.
À tarde fui levar a Luísa pra escola, fazer matrícula, etc… e encontrei uma
conhecida que se espantou ao me ver e perguntou: ainda não ganhou??? Eu, sem
pensar na reposta, disse: não mas já estou com algumas contrações… ela ficou
com uma cara assustada e eu continuei meu dia. Depois chamei um amigo taxista
pra me levar pra consulta pois estava com muito calor e preguiça de dirigir. No
meio do caminho, mais uma fisgadinha. Ele me perguntou se estava tudo bem e eu,
de novo, com toda naturalidade disse que sim que só estava tendo umas
contrações… ele ficou apavorado e começou a acelerar o carro dizendo “pelo amor
de Deus, não vai ter esse bebê agora”. Daí eu disse que não, que ainda ia
demorar pra nascer (olha o tal do instinto aí rsrs).
Bem, na consulta, eu e
Paula conversamos e ela perguntou se eu queria fazer o toque. Eu quis e
constatamos que eu estava com 2 centímetros de dilatação, mas não tinha
contrações regulares. Ela me lembrou que eu poderia ficar assim durante um bom
tempo, até uma semana… enfim… até essa hora eu ainda não tinha criado muita
expectativa. Voltei pra casa e no final do dia, Luísa me pediu pra estudar pra
prova do curso de inglês com ela. Estávamos estudando e comecei a sentir um
pouco mais de dor em cada cólica (era muito parecido com cólica nesse momento).
Rafael fazendo janta e eu e Luísa estudando, eu parava de ler quando sentia uma
dorzinha mas continuava depois. Até que senti uma beeemmm forte… muito mesmo…
saí correndo pro chuveiro e a coisa não passava. Gritei pro Rafael ligar pra
Alessandra, minha doula-amiga-anja. Falei que queria que ela fosse lá, na
verdade, esse foi o primeiro momento que senti medo.
Depois de algum tempo, ela
chegou e eu já estava beemm mais tranqüila, não tinha sentido a dor forte mais
e pensei que era “alarme falso”… perguntei se ela achava que devia ligar pra
Paula, ela disse que sim. Daí pensei que seria exagero mas liguei mesmo assim e
liguei pra minha mãe também pois ela mora noutra cidade e ficaria com a Luísa.
Depois de umas duas horas, chega minha mãe, meu pai e logo depois a médica
assistente Renatinha pois a Paula estava descansando de outro parto que ela
tinha acompanhado. Bem já era quase meia noite e eu sentia algumas dores mas
ainda estava “controlada”.
Passei a noite sentada no sofá, cochilando entre uma
contração e outra. Rafael tentando dormir no colchão ao lado. Às 06:00hs na
manhã de terça, chega a Paula com toda a calma que Deus deu pra ela, fizemos
outro toque… 3 centímetros de dilatação, nessa hora, meu mundo caiu, como
assim?? Um dia e uma noite inteiros de contrações e somente 1 mísero centímetro
de dilatação?? Paula me disse que o trabalho de parto não tinha engatado ainda
e que poderia durar horas ou dias. Eu me sentindo muito cansada, com muito sono
e só queria dormir. Foi aí que as contrações simplesmente desapareceram. Eu já
não sentia mais nada. Em meio a lágrimas e pensamentos do tipo “não vou
conseguir”, adormeci durante umas 3 horas. Quando acordei, ainda sentia umas
contrações bem leves e muito distantes uma da outra. Só conseguia pensar: meu
trabalho de parto não engatou, não vou conseguir, vou pedir uma cesarea pra
amanhã e sentia uma tristeza muito grande por isso. Assim fiquei até a tarde
quando a Alessandra chegou com todos seus apetrechos e mandingas. Conversamos
muito, falei dos meus medos, da dificuldade que era deixar aquela vida que eu
já estava tão acostumada e me entregar pro novo. Ali na sala da minha casa,
fizemos um sessão de terapia, Reike e alguns exercícios. Depois a Alessandra me
fez movimentar, fomos caminhar na praça perto de casa, subimos e descemos as
escadas do prédio e depois fomos dançar no PlayStation com a ajuda da Luísa.
Até esse momento as contrações ainda estavam leves e irregulares.
Alê foi
embora. Rafael chegou do trabalho e as contrações começaram a aumentar de
intensidade e frequência. Aqui vale um adendo, eu simplesmente não consegui em
nenhum momento monitorar as contrações, eu tentava marcar, pedia pro Rafael e
pra Luísa marcarem, mas não tinha ritmo, não era como eu tinha estudado. Enfim…
por volta das 19:00 horas elas começaram a me desconcertar, eu já não conseguia
me controlar, me concentrar em nada e só pensava “meu Deus como que posso me
entregar pra uma dor dessas”. A dor é muito diferente de tudo que já senti, ela
te cega, vocês passa a ficar sem raciocínio lógico, eu tentava manter o
controle da situação o tempo todo mas simplesmente não conseguia.
Daqui pra
frente, eu não lembro muita coisa, sem perceber me entreguei pra aquele
momento. Então, sem lógica e coerência vou tentar relatar o que pensava e
sentia: estou sendo esmagada de dentro pra fora… quero que acabe logo pra poder
dormir… quero vomitar, putz vomitei na Alessandra … Quero dormir… não acho
lugar, o chuveiro não adianta, a bola de Pilates não adianta, um abraço
adianta, estou sem ar, quero água, que calor… assim fico até que a Paula (nessa
hora já estava todo mundo na minha casa) me pede pra fazer outro toque, eu
aceito mas penso: ihhh não engatou, vamos marcar a cesárea. Ela faz e diz: você
está com 7 centímetros, a Olívia está chegando, vamos embora??? Sinto um misto
de felicidade e pânico… Muito pânico… quero chorar… vejo todo mundo se
movimentando, quero ajudar e fico paralisada. Daí a Paula me fala:chegou a
hora, quero que vc não pense em mais nada, vamos tomar conta de tudo. Vou até o
quarto da Olívia onde a Luísa estava dormindo, me despeço, terceiro momento de
medo.
Daí vamos pro hospital, eu ajoelhada no banco de trás do carro com a
Paula do meu lado. Nesse momento acho que entrei na Partolandia, não me lembro
como chegamos ao hospital e quase nada depois disso. Só sei que vi a cama no
quarto do hospital e pensei: quero dormir. Além da dor (aqui já tinha me
entregado pra ela) eu sentia um cansaço descomunal, então eu só queria que
acabasse logo pra eu dormir (huahaujuauaua sabe de nada inocente parte II) e
muita sede e calor. Daí me lembro das meninas Paula, Renatinha e Alê me pedindo
pra agachar Kkkkkkkkkkkk nessas alturas do campeonato elas me pediam
agachamento. Eu mal conseguia ficar de pé. Daí a Renata me segurou pelas costas
e pediu pra que eu soltasse o corpo. Nem se eu quisesse conseguiria resistir.
Aí veio aquela vontade de fazer força e fiz muita, achei que tinha feito um
cocô enorme no chão do quarto. Paula me diz: ela está chegando e está dentro da
bolsa.. Depois só vi ela sair correndo… vem cadeira de rodas… me levam pro
centro cirúrgico (é norma do hospital, o bebê ter que nascer no centro
cirúrgico, absurdo né??) enfim… no meio do caminho.. quero fazer força de novo…
e faço… Paula vem me buscar correndo… quero fazer outra força.. espera… agora
não… chego no centro cirúrgico.. Quero perguntar cadê o pediatra… não consigo
falar… outra força… Deve ter rasgado tudo (penso) … Paula??? Ela está chegando…
Meus Deus… sai Olívia, com bolsa, placenta e tudo..
Ela é rosa!!! Me olha de
dentro pra fora… o mundo pára… nada mais existe… Não acredito, ela está aqui.
Linda, meu bebê cor de rosa nasceu às 03:17 da madrugada, empelicada,
meconizada e com uma circular de cordão (esses nomes é pra quem está estudando
o assunto). Não tive nenhuma intervenção!! O pediatra chega e não acredita que
ela já tinha nascido. O expulsivo foi muito rápido, deve ter sido pra compensar
as horas da fase latente… e eu?? Ainda não dormi aquele sono que eu tanto
sonhei no trabalho de parto… mas vale cada minuto!!! Agora… só agradeço a Deus
e a cada um que fez ser possível trazer a Olívia da forma como ela queria vir…
na sua piscininha particular, recebida pelas mãos da mamãe e do papai.
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