quinta-feira, 24 de março de 2016

Uma fonte de esperança (relato de parto de um pai)

O Flore Ser Parto e Crias incentiva, apoia e valoriza o envolvimento dos homens (principalmente os pais) no processo do gestar e parir. Em todos os nossos grupos criamos momentos e formas de acolher e dar voz também para os homens que estão vivenciando sua transformação em pais. 
Uma das coisas mais emocionantes de um parto é ver homens sustentando física e emocionalmente suas mulheres, para que essas possam atravessar seus partos. E temos conversado bastante sobre a necessidade de mais espaços e ações que abram esse espaço de escuta e apoio para os homens "grávidos". 
Fernando participou de dois grupos do FloreSer, junto com sua esposa Fernanda, enquanto esperavam a Liz. E após a chegada da Liz, Fernando nos presentou com esse belíssimo relato de parto. O relato de um homem, sobre como se sentiu no parto de sua filha. 
Gratidão imensa por nos possibilitar compreender um pouco mais a sensação masculina do parir...



Uma fonte de esperança!!
  (por Fernando, um recém pai parido)


E você acorda.

E o tampão saiu.

E as contrações começaram.

E a bolsa estourou.

E você ali, assistindo …

O trabalho de parto acontece num lugar que os homens não entram. Não compreendem, nem ao menos conseguem vislumbrar. Você olha para a sua companheira e ela está noutro lugar, em um santuário que só as mulheres entram, ou melhor, só as parturientes podem entrar.

E você ali, assistindo…

Vem uma contração, vem um grito, um gemido, um olhar, um apertão no seu braço, uma boa sugestão “Vamos amarrar a barriga!” … e a contração vai embora, seu braço foi solto e a barriga tá amarrada.

E você alí, assistindo…

Vamos para o hospital!

Você coloca uma calça, pegue a carteira, celular, as chaves do carro, as malas, as coisas do neném, a bolsa da companheira, segue o plano … enquanto isso, lá no santuário das parturientes, está acontecendo alguma coisa que nós, homens, não compreendemos.

Chega no hospital, assina papel, conversa com o financeiro, preenche papel, assina mais papel, narra endereço, mostra carteirinha do convênio, assina mais papel, confere papel, assina contrato, assina termo de responsabilidade … enquanto isso, lá no santuário das parturientes está acontecendo alguma coisa que nós, homens, não compreendemos.

“Já tá com 5, 6, 8, 10 centímetros de dilatação. Vamos para o centro cirúrgico!” e você, ou ainda está assinando papel, ou está ali, assistindo …

Aí começa … a natureza masculina de cuidar, proteger, as vezes acalentar, ser decido, racionalizar, ser pragmático e blá, blá, blá, não faz sentido porque as mulheres estão lá no santuário onde somente as parturientes entram, lembra?!

Aí começa … o medo, a agonia, a ansiedade e a dor causadas pela certeza de que você não entrou no templo das parturientes.




NESSE MOMENTO! Nesse exato momento nasce o PAI. Que mergulhado no sentimento de impotência, sozinho do lado de fora do templo é tomado por uma força visceral e se transforma em uma fonte infindável de ESPERANÇA.
Isso! Você simplesmente acredita que de alguma forma, imcompreensível, tudo dará certo.

 E você continua ali, assistindo!

Mas agora de outra forma … você tem esperança.

Uma segurança e uma certeza de que tudo dará certo.

A esperança de que sua companheira encontrará uma forma de parir, a esperança de que a doula encontrará uma maneira de auxiliar sua companheira, a esperança de que a médica tomará a decisão certa, a esperança de que tudo dará certo.

E no meio de todo o movimento acontecendo dentro do templo das parturientes sua companheira olha pela janela, te procura, te vê, se enche de esperança e reconhece o pai no homem que ela escolheu.

E assim, de agora em diante, o homem se transforma nessa fonte de esperança que a mãe (nome dado às mulher que saem do templo das parturientes) busca sempre que lhe for necessário ao longo dessa caminhada, agora a três, quatro, cinco … quantos vocês quiserem ter na sua família.







Aproveitamos para convidar mais homens grávidos para o próximo Grupo de Preparação para o Parto do Flore Ser que acontecerá em abril. Vamos?


Um comentário:

  1. Um relato de um verdadeiro homem. Um homem que assume junto com sua mulher a tarefa sublime de criar uma criança com todas as dificuldades que o mundo de hoje nos apresenta. Como mãe, sogra e avó cabe a mim honrar, admirar e agradecer à Deus essa família que se inicia de um modo tão forte e sublime já com a certeza que Liz está amparada física, emocional e moralmente, graças a estes pais maravilhosos que coincidentemente são minha filha e meu genro.

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